Entrevista com o acadêmico e romancista Eduardo Schroeder
Izabelle Valladares entrevista Eduardo Schroeder
EDUARDO SCHROEDER é bacharel em Ciência da Computação. Atualmente atua como Gerente de Projetos na área de Inteligência Artificial (IA). Escritor ficcional e não-ficcional.
Eduardo Schroeder, você acha que o mercado de romances e ficção vem crescendo no Brasil?
R: Sim, estamos lendo mais. Apesar do Brasil já ser um país com forte tradição no consumo de livros de auto-ajuda, o brasileiro está redescobrindo o sabor da leitura despretenciosa, aquela que busca no livro uma forma de lazer e não apenas de absorção de conhecimento. É neste cenário que a literatura ficcional vem ganhando espaço. Por sinal, alguns dos nomes mais populares da literatura nacional encontraram formas de unir estas duas categorias, como é o exemplo de Augusto Cury e até mesmo Paulo Coelho.
É bem verdade que ainda temos um longo caminho pela frente. E não me refiro apenas aos aspectos quantitativos. Acredito na pluralidade da literatura, então não basta lermos muito das mesmas coisas. Não acredito que a venda de milhões de livros de alguns poucos autores (em sua maioria estrangeiros) seja o cenário ideal, mas também não posso ignorar o fato de que este cenário está criando uma geração que lê por prazer. E esta “nova” motivação abre espaço para os novos autores que sejam capazes de oferecer o prazer que um leitor procura.
Qual o tipo de romances te inspiram os clássicos ou os comerciais ?
R: Não acredito que a inspiração para escrever um livro, qualquer que seja, venha de uma única fonte. Se alguém se propõe a escrever, tem que estar preparado para ler de tudo um pouco, sem preconceitos. Além disso, o próprio conceito de livros Clássicos e Comerciais é questionável. Bom, simplificando a questão, minhas referências tendem a ter uma linguagem mais acessível, coloquial, o que está mais próximo do conceito de literatura comercial do que da clássica.
Você acha que seus livros se enquadram na literatura comercial moderna Ou nos clássicos de suspence?
R: Eles convergem para um estilo literário mais moderno. Uso capítulos curtos, descrições objetivas, linguagem coloquial, seqüências que muitas vezes lembram o cinema atual.
Como as histórias surgem para você?
R: Pergunta difícil de responder. Se perguntasse para Arquimedes como surgiam suas descobertas científicas, é provável que ele contasse o episódio onde o Princípio de Arquimedes (relação volume e massa) surgiu. Ele estava na banheira, no bem-bom, quando tudo aconteceu. Comigo acontece algo parecido (exceto a parte de sair correndo nu pelas ruas da cidade gritando Eureka!). Na verdade, tudo começa com uma constatação: “Preciso de uma história que de alguma forma aborde o assunto X!” Gosto de apresentar os problemas que preciso resolver para meu inconsciente e deixar ele trabalhar por conta própria por algum tempo, para só depois cobrar alguma coisa dele. É impressionante como sempre dá certo, de um jeito ou de outro.
Depois que meu inconsciente me dá um empurrão inicial, trazendo uma sacada interessante, ou uma premissa original (é isso o que chamo de inspiração), aí vem os 90% do processo (que chamo de transpiração). Pegar aquela idéia, conceito ou premissa e transformar em uma história estruturada. É quando exercito meu poder de planejamento.
Quanto tempo, em média, você leva para escrever um romance? Qual foi o mais rápido que você já escreveu e qual lhe deu mais trabalho?
R: Considerando que das três obras que escrevi, duas são ficção, fica fácil responder a pergunta.
O meu primeiro romance, “O Império Invisível”, foi o mais trabalhoso, porque ele envolveu um processo de pesquisa histórica mais detalhado. Iniciei ele em julho de 2007. Levei um mês para fazer o planejamento, que era premissa, a estrutura da história, o enredo, os personagens, o contexto, o ambiente, tudo isso sob um pano de fundo que envolvia o mundo real que daria a verossimilhança desejada à narrativa. Após fazer este planejamento, iniciei a escrita, e depois de alguns capítulos, fui capaz de estimar o tempo que levaria para escrever o restante, e vi que eu deveria estar terminando por volta de março de 2008. Como faço aniversário neste mês, coloquei como meta concluir o livro até meu aniversário. Fazia tempo que eu não me dava um presente, e este seria um presente interessante. Resumindo, graças às minhas férias e à paciência da minha família, consegui cumprir o prazo, e terminei o livro exatamente no dia do meu aniversário.
E o livro mais rápido, automaticamente, é minha última obra, “Callipolis”. Este livro tem uma peculiaridade, que surgiu num desses momentos “Eureka!”. Eu estava deitado na cama, e simplesmente surgiu a premissa. Bom, eu comecei a escrevê-lo, e depois de um mês acabei engavetando ele, por causa de compromissos e trabalho. Alguns meses depois descobri um concurso para tentar publicar uma obra para o mercado francês, através de uma ONG. Eu então enxerguei que o contexto do livro, que é baseado no “Mito da Caverna” da obra “A República” de Platão, se encaixava bem para aquele mercado. Como havia restrição de número de páginas, eu tive que fazer alguns ajustes no planejamento inicial, deixando-o mais enxuto, e o concluí, depois de algumas madrugadas de trabalho, no prazo final de entrega. Ao todo levei 3 meses para finalizar a obra.
Agora ficou fácil responder: média de 8 e 3 meses são 5 meses e meio.
Você já teve histórias que começou a escrever e não conseguiu Dar segmento?
R: Sim. Publiquei um artigo que conta essa história. Se tiver um tempinho acesse:http://www.autores.com.br/2010011129118/Literatura/Dicas-para-novos-autores/o-primeiro-romance-a-gente-nunca-esquece.html. Escrever um livro sempre foi um negócio que me agradou, desde muito novo. Com 10 ou 11 anos eu já fazia jornaizinhos subversivos na escola (risos). Com 12 eu desenhava estórias em quadrinhos primitivas. Mas foi com 15 anos que resolvi me aventurar na ficção escrita. O problema é que eu achava, como muitos ainda pensam, que sentar na frente da tela branca do Word seria um convite ao mundo maravilhoso que estava prestes a surgir de minhas entranhas! Não precisei de muito tempo para descobrir que não é bem assim que a coisa funciona. Cometi o erro de começar a escrever, sem ao menos saber qual era a história que eu estaria contando. Sabe aquele negócio de fazer uma abertura apoteótica, com bastante ação, para prender a atenção do leitor? Pois bem, foi assim que comecei, mas depois não sabia para onde ir, e à medida que ia tentando criar um roteiro na cabeça, as coisas que eu já havia escrito ficavam cada vez mais deslocadas, ao ponto de que cada nova idéia que surgia, eu precisava alterar o que já havia escrito, e a coisa começou a ficar muito enfadonha. Engavetei o projeto, e decidi ler um pouco mais. E foi o que fiz dos meus 15 aos 26 anos, antes de arriscar escrever o livro intitulado “O Império Invisível”. Por sinal esta foi uma das coisas que aproveitei daquela época, o título.
Se você tivesse que listar cinco pontos fundamentais que um autor devesse ter em mente para escrever uma história de sucesso, quais seriam?
R: Vou me abster de listar os requisitos necessários para um bom escritor, este tipo de assunto já está bastante batido na internet e em livros, é óbvio que um escritor precisa “gostar de ler”; “ser observador”; “conhecer bem a linguagem”; etc. Vou me prender aos pontos fundamentais que, na minha opinião, fazem uma história ser boa:
1) Não simplesmente conte uma história, mostre-a, faça o leitor senti-la, deixe ele com raiva, nojo, feliz, mas nunca indiferente;
2) Use a linguagem do seu público alvo, pois a qualidade de uma obra não se mede pela linguagem. Não é o muito rebuscar que faz um texto ser brilhante;
3) Saiba revelar as coisas na hora certa e na velocidade certa. Poucas coisas são mais importantes no sucesso de um romance que a cadência correta. A capacidade de criar no leitor aquela expectativa pelo o que virá. E neste aspecto, as primeiras páginas da obra são fundamentais. O escritor precisa convencer o leitor de que valerá a pena cansar suas vistas e sua coluna nas horas de leitura, esperando o desfecho da história;
4) Deixe seu leitor trabalhar também. Não dê tudo mastigado para ele. Use recursos que permitam que ele possa fazer descobertas antes mesmo que você diga. Nada é tão prazeroso quanto ler um romance que é um verdadeiro “caça ao tesouro”;
5) Saiba quando parar. É muito triste quando um escritor queima uma premissa brilhante com o famoso “encher lingüiça”. Só diga aquilo que merece ser dito, e que de alguma forma cumprirá o objetivo.
Como você recebeu a notícia de receber o prêmio Personalidades 2010 na categoria revelação literária?
R: Num primeiro momento fiquei surpreso, depois entusiasmado, e finalmente relaxei e digeri a importância deste reconhecimento. Em um país onde alguns indivíduos, que se dizem críticos literários, escondidos atrás dos autores “inquestionáveis”, saem falando besteiras a respeito dos novos autores, é muito bom ver este tipo de movimento.
Como você vê a ARTPOP- Academia de artes de Cabo Frio no mercado nacional?
R: A ARTPOP cumpre diversos papéis no universo das artes. O papel de incentivadora, expositora, multiplicadora... Mas na minha opinião, a maior contribuição que a ARTPOP oferece, é a união que proporciona entre aqueles que amam verdadeiramente as artes. Não é preciso muito esforço para perceber que mais do que um jargão, a união torna todos mais fortes, mais representativos, mais visíveis.
Sinto-me honrado em fazer parte do corpo de acadêmicos da ARTPOP, e espero poder contribuir para seu crescimento.
Poxa vida, que bela entreveista!!
ResponderExcluirAdorei!!!
Parabéns!!!
BJs